sexta-feira, 18 de abril de 2008

Fotossensacionalismo

Cézaro de Luca - Folha de São Paulo

"O apelo ao sentimental, a super valorização dos detalhes e a ênfase às expressões humanas, fizeram da imagem uma arma valiosa na conquista dos leitores pela veracidade atribuída ao material fotográfico, garantindo a empresa uma posição de informante, fiel e isenta de fatos."
O trecho extraído do livro "Fotojornalismo: informação, técnica e arte", de Alene Lins e Rosangela Valente, retrata o papel da fotografia nos meios de comunicação que se utilizam da imagem, sobretudo as mídias impressas e digitais. Mais do que ilustrar notícias, o fotógrafo deve buscar a essência da cena e captar os elementos que ele julgar mais importantes na composição da foto.

O que rotineiramente vemos, no entanto, passa longe da busca pela essência. Estampadas nas capas das publicações estão as imagens que mais causam repúdio, se a notícia for sobre assassinato lá estará o corpo ensanguentado. Muitas empresas podem pensar que mostram o que o público quer ver, acreditam satisfazer a vontade dos leitores pelo excepcional. O que temos na verdade é o mínimo trato com a imagem, principalmente com quem dela faz parte.

Cerca de duas semanas atrás saiu no jornal "Tribuna da Bahia" uma matéria sobre o assassinato que ocorreu nas imediações da Igreja do Bonfim, em Salvador. Para ilustrar a notícia de capa, a foto do corpo da vítima ainda no carro, local em que foi executado o crime. Difícil saber nessa situação onde se encontram a responsabilidade com "objeto" fotografado, com o público e com a estética da imagem, esta que é renegada à último plano.
Efe - Folha de São Paulo

Fotografias que provocam a reflexão, mais do que expor a situação de forma quase escatológica, deveria ser uma constante no fotojornalismo. Felizmente existem empresas que sabem aproveitar o potencial de seus profissionais, a exemplo do jornal "Folha de São Paulo" que mantém a tradição de qualidade das suas imagens.

Eis o desafio para os novos profissionais que desejam adentrar nessa área. A fotografia jornalística, assim como o jornalismo em geral, precisa entender qual o seu verdadeiro papel para a sociedade e cuidar para os verdadeiros interesses dos cidadão sejam atendidos.

terça-feira, 8 de abril de 2008

"Feio é belo, belo é feio..."

Fotos: Andrzej Dragan

Quem disse que o feio não pode ser bonito?
Sem tomar partido daqueles desprovidos de beleza, quero chamar a atenção para fotografias, cuja intenção é de justamente chocar pela "feiúra" que apresentam os modelos e objetos fotografados.

Pegando o gancho de Neumar Rosário , que em seu comentário no post "Encare de frente o problema" atentou para o fato de muitas imagens não serem belas no sentido tradicional que conhecemos, mas podem possuir uma beleza plástica pela qualidade que apresentam. O caro colega citou como exemplo o livro, História da Feiúra, do escritor Umberto Eco.
Em seu ensaio, Eco, trata da questão do feio com um sentindo muito mais amplo do que a simples contraposição ao belo. Um conjunto de textos e pinturas de artistas consagrados como Picasso, cujas imagens são caracterizadas pelos traços aparentemente disformes, compõem esta obra que tenta nos mostrar como o bizarro e o grotesto sempre estiveram presentes em nossa cultura.

De volta à fotografia, nos deparamos com Andrzej Dragan, fotógrafo polonês de talento inquestionável e dono de um olhar sensível e apurado. Em suas fotos, Dragan apresenta figuras que em circunstâncias normais causariam repulsa, mas que diante da qualidade técnica e a expressividade que apresentam, não deixam duvidas do quanto são belas.